Este artigo, publicado no site clicrbs, é muito interessante para refletir sobre o uso das tecnologias na educação. Principalmente para repensar sobre as possibilidades e recursos diversos que as mesmas nos oferecem.
Será que não é possível usar as redes sociais (que os adolescentes tanto amam) a nosso favor, buscando formar uma rede envolvendo nossas aulas, nosso dia a dia na escola?
Realmente é um assunto para pensar...
Como estamos "encinando"
20
de abril de 2012
Daniela Freitas Torres*
O erro acima
provavelmente seja percebido e cause "dor" aos olhos de 99,9% dos
leitores deste espaço, que só pelo fato de estarem percorrendo essas linhas já
demonstram ter um interesse pelas questões do ensino brasileiro. Muito tem sido
discutido acerca da educação e arrisco afirmar que pouco vem se fazendo (na
forma mais genuína do gerúndio) em relação a esse fato.
Como já
afirmado por Martha Medeiros, as pessoas estão, hoje, mais preocupadas com
questões "de maior relevância", como aprender inglês ou até mesmo
jogar golfe a aprender língua portuguesa. Esses brasileiros estão errados? Na
posição de docente, creio que tal atitude não possa ser classificada como um
erro, palavra tão abominada pelos linguistas, mas sim como um reflexo da atual
sociedade do consumo e da informática.
Em um tempo
em que ser "ligado" significa ter mais de 227 amigos no Facebook e
conhecer todos os participantes do Big Brother, discutir os termos integrantes
da oração é uma atitude entendida como proliferadora do tédio e que precisa ser
empreendida pelo professor. Como então ensinar de forma que os alunos tomem o
gosto pela matéria e entendam que ela realmente será necessária para sua
"vida real"?
A escola,
como já referido por muitos teóricos da pedagogia moderna, é, na maioria das
vezes, um ambiente que artificializa a aprendizagem. A leitura de Machado de
Assis concorre hoje com atividades "muito mais interessantes" como a
comunicação nas redes sociais, que acontece de forma tão leve e sutil: ao
escrever um recado para um amigo, o aluno não entende tal atitude como uma
situação de leitura e escrita, como aquela que é delegada pelo professor; como
"ter que ler" Dom Casmurro porque "esse livro cai no
vestibular".
Preocupados
em envolver nossos alunos, literalmente nos descabelamos dentro das salas de
aula, tentando conquistar nossos discentes e convidá-los a uma aprendizagem
significativa. Envolver nas atividades cotidianas de sala de aula pesquisas na
internet ou incentivar o trabalho em grupo, através de problemas a serem
resolvidos, são alternativas que tentamos, paulatinamente, incorporar ao nosso
modo de ensinar, mas que nem sempre surtem o resultado esperado.
Recentemente
um colega relatou uma experiência que ilustra a situação de nossos adolescentes
frente às (novas?) tecnologias e que, ao mesmo tempo em que evidencia uma
situação inusitada, convida-nos a uma reflexão não só sobre o ensino, mas
também à cultura emergente resultante das novas formas de comunicação.
O referido
colega levou uma de suas turmas de ensino médio ao laboratório de informática e
disse aos alunos que se houvesse participação efetiva da turma durante a aula,
no final do período teriam 15 minutos livres para usarem o computador da forma
que quisessem, havendo apenas uma condição: a internet não poderia ser usada
para acessar redes sociais, vídeos eróticos ou programas de bate-papo.
A proposta
animou a turma que passou os 15 minutos restantes da aula atônita em frente ao
computador. Atônitos porque não sabiam o que fazer com a máquina se não podiam
usá-la para os únicos fins que conheciam. Em outras palavras a internet
tornou-se totalmente inútil naquele dado momento, pois vem sendo usada de
maneira simplista pela maioria dos jovens.
Não faço aqui
um discurso generalizante ou retrógrado, que condena as novas formas de
comunicação na era da informática. Acredito que a rede pode ser instrumento de
inserção social, de ampliação das aprendizagens, a exemplo das centenas de
blogs em que alunos desenvolvem a escrita ou até mesmo nos fóruns de debate em
que exercitam a argumentação. Penso que a internet deve sim ser instrumento da
e na prática docente; o que não se pode permitir é que ela vire instrumento de
alienação.
Precisamos
ensinar, com "s", valendo-nos da informática, da música, da
diversidade, enfim de tudo que possa servir para formar um sujeito crítico,
capaz não só de perceber o equívoco do título, mas também dos enganos que uma
sociedade moderna pode proporcionar ao indivíduo que não consegue utilizar as
tecnologias para o seu benefício e crescimento não só como aluno, mas como
cidadão crítico que deve se tornar ao longo do processo educativo.